Data do Artigo: 26/03/2023
Segundo especialistas ouvidos pela Agência Brasil, são espécies que ameaçam a fauna silvestre nativa de várias formas, inclusive invadindo unidades de conservação. Há alguns anos, o Parque Nacional da Tijuca, localizado dentro da cidade do Rio de Janeiro, vem alertando sobre a presença de cachorros dentro de seus limites.
“Os animais domésticos, gatos e cachorros, também têm potencial grande de causar desequilíbrio. Eles são animais que têm por hábito a caça, podem interferir no equilíbrio ecológico dessa floresta e podem levar doenças para os animais locais”, explicou a chefe do Parque, Viviane Lasmar. “A gente tem um problema sério de animais domésticos das casas do entorno, que muitas vezes ficam soltos ou são soltos para dar uma volta e entram nas nossas áreas protegidas. Temos vários projetos de reintrodução de fauna nativa que podem estar sendo prejudicados pela presença desses animais”, acrescentou.
Para o doutor em Ecologia e Evolução e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Jorge Antonio Lourenço Pontes, a sociedade precisa lidar com a situação de cães e gatos que vivem soltos nas cidades.
“Não interessa politicamente falar de fauna silvestre. Interessa, sim, falar de cão e gato de rua. É mais fácil um político arrastar milhares de votos se falar que defendeu o cachorro de rua do que falar que defendeu a serpente silvestre, que ninguém gosta. É mais fácil o cara falar do gato de rua do que o cara resolver o problema de onças que estão sendo atropeladas ou caçadas. Tem vários trabalhos científicos mostrando os estragos que cães e gatos fazem nas unidades [de conservação], mas ninguém toma providência. Porque se alguém tentar fazer controle, se levantam políticos, se levanta a população contra. A gente já passou dessa fase, estamos numa situação de problema crítico da biodiversidade e para a saúde humana”.
Segundo ele, é preciso pensar em formas de conter esses animais. Castração de cães e gatos de rua resolve apenas parcialmente o problema, já que o animal continua causando impacto por anos. Colocá-los em abrigo é inviável, devido à limitação de espaço e ao alto custo disso.
“Animal de rua tem que ser retirado. Além do problema na fauna silvestre, tem o problema de disseminação de doenças. Tem toxoplasmose, filariose. Acho que todos os animais domésticos dentro de casa tinham que ser microchipados e registrados num órgão oficial, porque se achou o animal depois na rua, o microchip vai saber de quem é e a pessoa tem que ser multada”.
A eutanásia de cães e gatos é regulada pela Lei Federal 14.228, de 2021, que proíbe a eliminação da vida desses animais sem uma justificativa sanitária, seja ela o bem-estar do próprio animal, seja o risco de propagação de doenças que coloquem em risco a saúde humana ou de outros animais.
A Agência Brasil tentou ouvir o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) sobre as estratégias para lidar com espécies exóticas invasoras, mas não teve resposta.