Os atiradores que mataram
10 pessoas e depois se suicidaram em uma escola em Suzano, a 50 km de São Paulo, nesta quarta-feira (13), utilizaram uma das comunidades mais extremistas do Brasil para juntar dicas e fazer planos para o ataque. No fórum
chamado Dogolochan, os jovens agradeceram a ajuda, e deixaram rastros para avisar seus colegas virtuais do massacre que estava por vir.
O fórum é conhecido como um local onde são discutidos abertamente a prática de crimes, violação de direitos humanos, além de racismo e misoginia.
Tópicos do fórum mostram que Luiz Henrique de Castro, 26 anos; e Guilherme Taucci Monteiro, 17, pediram dicas de como realizar o massacre. Um print datado do último dia 7 mostra o que parece ser um dos atiradores agradecendo DPR, o administrador do Dogolachan pelos conselhos recebidos.
“Muito obrigado pelos conselhos e orientações, DPR. Esperamos do fundo dos nossos corações não cometer esse ato em vão. (…) Nascemos falhos, mas partiremos como heróis. (…) Ficamos espantados com a qualidade, digna de filmes de Hollywood”, diz a mensagem.
Em outras mensagens no Dogolachan, usuários se questionam se os atiradores eram integrantes do fórum e a resposta dada por um dos administradores foi positiva.
“Eles eram daqui do fórum, não?”, pergunta um deles, no que DPR (o administrador) responde: Não fiquem citando, mas era confrades daqui, sim. Logo vão encontrar algo em poder deles (…)”.
Segundo as mensagens, o sinal de que os preparativos para o ataque estavam prontos envolviam a publicação de um tópico com a letra de uma música conhecida dos integrantes do Dogolachan, aproximadamente três dias antes do crime. A publicação foi feita na última segunda (11), às 4h31, segundo registros do próprio fórum.
Um tópico com as dicas pedidas pelos atiradores enquanto planejavam o massacre foi classificado como secreto por DPR, que mudou sua URL para não ser achado em futuras investigações de autoridades.
O próprio administrador, posteriormente, deu alguns detalhes de como ajudou os dois atiradores a conseguirem armas, além de descrever Guilherme como um “um bom garoto que acabou descobrindo da pior forma possível que brincadeiras podem ser tornar pesadelos reais”.
Segundo o mesmo texto de DPR, o “Luiz entrou em contato para buscar um canal onde ele obtivesse fácil acesso a um revolver calibre 22”, e logo depois lhe apresentou Guilherme. Ele encerra a publicação afirmando que as conversas foram deletadas e jamais irá revelar o teor exato delas.
Mais tarde, DPR, o administrador, descreveu trocas de e-mails com Luiz, que teria interesse em comprar uma arma com facilidade, e que também foi apresentado à Guilherme por Luiz. Segundo o administrador, Luiz era conhecido no fórum como “luhkrcher666”, e Guilherme como “1guY-55chaN”. DPR diz ainda que cortou o contato com Luiz por e-mail pois ele deixava muitos “rastros” digitais, que facilitariam a identificação de todos os membros.
Por fim, DPR diz que Luiz era um “rapaz injustiçado”, enquanto Guilherme, de apenas 17 anos, era “inocente a ponto de transparecer sua natureza completamente infantil”. Ele afirma que todas as conversas foram deletadas e jamais irá revelar o teor exato delas.
Fórum anônimo
O Dogolachan foi criado em 2013 pelo
hacker Marcelo Valle Silveira Mello, também conhecido como Psy ou Batoré. Mello é conhecido por crimes de ódio e foi a primeira pessoa condenada pela Justiça do Brasil por crime de racismo na internet, em 2009. Ele se posicionou contra as cotas raciais de maneira preconceituosa e foi condenado a um ano e dois meses de prisão.
Rastrear as atividades do fórum é difícil, após ele ter sido movido para a Deep Web, onde só é possível acessá-lo através do aplicativo TOR, que confere anonimato para seus usuários.
Até maio de 2018 o site era comandado por Marcelo Valle, preso no dia 10 na Operação Bravata, da Polícia Federal. Desde então, DPR se tornou o administrador principal e tornou o fórum ainda mais rodeado de sigilo.
O fórum está ligado também ao Massacre de Realengo, onde Wellington Menezes de Oliveira — considerado um herói no Dogolachan — matou 12 crianças, antes de se matar.