RIO – De 1985 a 2018, o Brasil perdeu 89 milhões de hectares de áreas naturais em todo seu território, algo como 20 vezes a área do Estado do Rio. Essa perda acompanhou
, pois a abertura de pastos é o principal motor do desmatamento: no mesmo período, a área destinada à agropecuária teve um aumento de 86 milhões de hectares.
Os dados, obtidos por satélites e geoprocessamento, foram apresentados nesta quarta-feira (28) pelo MapBiomas — um projeto colaborativo de universidades, empresas de tecnologia e ONGs para mapear e monitorar a cobertura e uso da terra no Brasil.
Ele usa a interpretação de imagens de satélite da série Landstat, o mesmo empregado pelo Inpe, com resolução de 30 metros. As análises são feitas com machine learning, em computação na nuvem, por meio da plataforma chamada Google Earth Engine.
Segundo os dados do MapBiomas, a área ocupada por pastagens no Brasil parou de crescer a partir de 2005. As de agricultura, por sua vez, estão em crescimento.
— O que queríamos chamar atenção é que as áreas de pastagem no Brasil pararam de crescer e estão mais ou menos estáveis e até caindo de tamanho a partir de 2005 e 2006 — afirmou o coordenador do MapBiomas, o engenheiro florestal Tasso Azevedo. — As áreas de agricultura, por sua vez, estão crescendo e até se aceleraram nos últimos anos. É um processo de transformação de áreas de pastagem em áreas de agricultura.
Se a abertura de pastagens tem se reduzido no resto do país, na Amazônia Legal o cenário é o oposto. Em 2005 havia 45 milhões de hectares de pastagens lá. Em 2018, essa área cresceu para 53 milhões de hectares.
— A pastagem avança sobre a floresta, e a agricultura, sobre a pastagem. Mas, na Amazônia, a pastagem continua a crescer, com abandono de áreas e baixa produtividade — salienta Azevedo. — Temos cerca de uma vaca por hectare ou mata transformada em pasto do tamanho de um campo de futebol na Floresta Amazônica.
É uma produtividade baixíssima e um péssimo uso da terra .
Ameaça às metas de redução de emissões
Para Azevedo, no atual ritmo de perda de florestas o país não conseguirá cumprir suas metas voluntárias:
— Temos um compromisso do Acordo de Copenhagen, que é a meta de reduzir 80% do desmatamento ilegal na Amazônia em relação à média do que se registrou entre 1996 e 2005. Isso significaria que o desmatamento em 2020 não deveria passar de 3.800 km².
Segundo o pesquisador, o mais próximo que o país chegou dessa meta foi em 2012, quando o desmatamento foi de aproximadamente 4.500 km². No ano passado, o total foi de 7.800 km² e, neste ano, os números parciais indicam que será maior.
— Das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, cerca de 70 a 72% provêm do chamado uso da terra, que envolve tanto o desmatamento quanto a agropecuária. Se pegarmos apenas o desmatamento, ele responde a cerca de metade das emissões brasileiras. É uma tremenda de uma contribuição — diz Azevedo.