Data do Artigo: 06/01/2025
A data de 6 de janeiro, Dia de Reis, que é o mais importante para a festividade, tem dois sentidos para ela. Antes, de celebração. Mas, agora, também de dor. O pai dela, mestre Cicinho (Cícero da Silva, de 44) foi assassinado neste dia, no ano passado, enquanto preparava o evento. Mesmo em luto, ela diz que tem a missão de inspirar outros jovens a participarem do reisado e fazer com que mais olhos brilhem, como ocorreu com ela, pela arte do pai.
Mestre Cicinho era do Reisado de Manuel Messias. A filha abraçou o legado e segue com o grupo. Ela aprendeu tudo com o pai,
“As crianças veem o colorido e pedem para brincar. Hoje eu passo para os meus dois filhos. Quando eu não estiver aqui, vai ter quem dê continuidade por mim”, conta
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Cícera Flatenara.
Eles já conhecem o que fazem os mestres (que coordenam o reisado), os contramestres, as personagens de
E pensar que mulheres, no século passado, não costumavam ser as mestras. “Mulher dançava mais o ‘guerreiro’ (de Alagoas). Meu pai foi um dos mestres que mais incentivava a participação das mulheres aqui em Juazeiro do Norte”. Já é normal às vistas dos juazeirenses quando a mestra Flatenara ‘desafia’ homens para o tradicional jogo de espadas, em uma coreografia que impressiona quem está na roda. “O rei vai proteger a rainha e o príncipe no trono. Ele tem o dia todo para proteger a realeza do reisado e não deixar ninguém vir tomar.”
Um dos pares no jogo de espadas de Flatenara é o mestre Antônio Candido, de 35 anos, também conhecido na tradição da região. “Nosso foco é manter a tradição dos reisados como surgiram na região do Cariri, ao som da viola [do reisado de Congo)] e do maracá”. Ele celebra que a filha de 15 anos também já participa da festa
Ele é ligado ao Reisado Santo Antônio e faz ensaios todas as terças-feiras.
“Meu grupo é pequeno, a gente só tem 18 pessoas. O reisado, para mim, é alegria, amor e esperança de um futuro melhor. Isso é o que a gente passa aos mais jovens”, afirma Antônio Candido.
Em sua memória, a manifestação está vinculada ao som da zabumba, caixa e pífano, mas também à viola, que faz parte da tradição local. Outra ação é a “queima da lapinha”, que são as folhagens secas levadas ao fogo a fim de simbolizar as esperanças de cada pessoa. “Essas tradições são importantes para mim desde a minha infância.”
Referência de sons para Antônio Candido foi o mestre Nando, nome artístico do amigo violeiro Francisco Valmir da Silva Santos, de 45 anos, que aprendeu o reisado na zona rural. Ele entende que, apesar das tradições, há dificuldades de manter o reisado vivo. “Chega a ser um desafio por conta da internet. Existem brincantes jovens ou até adultos que não querem mais. Nós, que mantemos o reisado de Congo legítimo sempre convidamos os jovens a levar em frente esse folguedo do reisado.”
Ele observa que, nas escolas, as apresentações não são contínuas e existem dificuldades para que projetos sejam contemplados em editais públicos. “Quando a cultura vai para a escola, os alunos tornam-se novos aprendizes dos reisados. Principalmente para formar novos tocadores de viola ou violão”, diz. Mestre Nando explica
A 3,6 mil quilômetros de distância de Juazeiro do Norte, a preocupação de fazer com que o reisado siga forte está em grupos na cidade de Esteio (RS), que chamam a exibição de “terno de reis”. O acordeonista Gabriel Romano, de 37 anos, diz que aprendeu com o avô, mas teme que a tradição caia no esquecimento. “Na tradição, o terno de reis vai até uma casa sem avisar. A gente chega e começa a cantar na porta até a pessoa ouvir e convidar para entrarem. A gente faz várias apresentações por dia.”
Como as apresentações do reisado gaúcho do grupo de Gabriel (Estrela Guia de Esteio) são
Gabriel anda feliz porque no grupo conseguiu atrair uma acordeonista de 12 anos, Anita, que é filha dele. “Ela foi vendo o terno e fazendo o movimento. A minha filha tem celular, usa internet, mas a gente incentiva ela a ter essas vivências na música. Para ela também saber que existe um mundo fora daquilo.”