A profissão de motorista de caminhão, ao menos em determinadas situações, está ameaçada.
Isso porque algumas fabricantes já estão desenvolvendo veículos autônomos, que, não apenas dispensam a presença de uma figura humana a bordo, como também aboliram a cabine de motorista.
A sueca Volvo apresentou, há alguns anos, um conceito de caminhão sem cabine. Na última semana, a conterrânea Scania fez o mesmo, com o protótipo AXL.
A primeira demonstração para o público aconteceu no último dia 2, na sede da empresa, em Södertälje, que fica a 30 km da capital sueca, Estocolmo, durante o Innovation Day promovido pela Traton, dona da Scania. O G1 esteve no evento e conheceu o AXL.
Apesar de não ser a pioneira em mostrar um caminhão que dirige sozinho sem a cabine, o veículo da Scania parece estar mais pronto para entrar em operação do que o da concorrente.
Ainda assim, não há uma resposta definitiva para quando o AXL poderá estrear. “Não sei quando teremos um caminhão desse disponível para os clientes, mas ele está pronto. Depende das regulamentações de cada país. A tecnologia já temos” disse Xavier Carreras Castro, chefe de estilo da Scania.
A Scania não deu detalhes sobre a motorização do AXL, apenas disse que ele rodará com biocombustível.
Na demonstração na Suécia, o AXL percorreu um pequeno trecho em uma pista de asfalto molhado. Técnicos da Scania ainda posicionaram um automóvel na frente do caminhão, que fez o desvio, passando a cerca de 1 metro do carro.
A comunicação do veículo com o público é feita por meio de uma fina faixa de LEDs que percorre todo o caminhão. Quando está na cor azul, indica que o AXL está se movendo para frente. Quando a luz passa para vermelho, significa que o modelo começará uma manobra em marcha ré.
A Scania não detalhou a motorização, mas disse que o caminhão é movido a biocombustível – provavelmente gás.
Sob Controle
Atualmente, caminhões autônomos já rodam em testes ao redor do mundo. Mas sempre com uma cabine convencional, e um motorista de prontidão, caso algo aconteça diferente do esperado. Naturalmente, chegará o momento em que isso não será mais necessário.
“A estratégia é ir passo a passo, desenvolvendo a tecnologia junto com os clientes”, falou o chefe de operações da Traton, Christian Levin.
Para o executivo, caminhões autônomos inicialmente ocuparão um nicho, em determinadas áreas, como a mineração, função destacada pela Scania com o AXL.
“Seria ingenuidade tentar desenvolver uma tecnologia que cobrisse todas as utilizações”, concluiu.
A mineração é o ambiente mais propício para veículos que dirigem sozinhos por ter circulação restrita e reduzida. “Há menos variáveis, como carros, motos, ciclistas e pessoas” afirmou Carreras.
E a janela?
Para Carreras, que foi o responsável pelo design do AXL, a parte mais desafiadora da criação foi preservar a identidade visual da Scania.
“Nos outros modelos, temos as molduras das janelas em preto, se unindo a grade em forma de T. Mas aqui não temos janelas. Então decidimos fazer um T invertido usando a grade frontal, e avançando pelas laterais”, falou.
As diferenças do AXL para um caminhão “convencional” vão muito além das janelas. Apesar de usar a mesma base de um modelo tradicional, ele tem um módulo de controle no lugar da cabine. As informações são coletadas por meio de 7 câmeras, lidares (que utilizam ondas laser) e radares, espalhados pelo veículo.
O sistema de condução autônoma foi desenvolvida a partir do software já usado nos caminhões da marca que dirigem sozinhos em testes.
Fim dos motoristas?
Também não há uma resposta pronta para essa pergunta. Mas há uma discussão por todo o mundo sobre condições de trabalhos de caminhoneiros, remuneração e, claro, a segurança dos veículos autônomos.
O chefe de operações da Traton acredita que, em alguns casos, haverá dificuldade de encontrar pessoas dispostas a continuar dirigindo caminhões.
A falta de reposição também acontece quando profissionais se aposentam e não têm seus postos preenchidos. Assim, os autônomos ocupariam esta lacuna.
Mas o assunto é mais delicado, e envolve outras discussões. De qualquer forma, a tecnologia já caminha para suprir essa necessidade.